Quando
começamos a praticar escalada em rocha no Brasil aprendemos com os amigos mais
experientes que o excesso de confiança pode ser perigoso, e a mesma máxima pode
ser aplicada para trekkings no Nepal.
Escolhemos um trecho curto, mas a caminhada envolvia 5 dias de trekking saindo
de Nayapul a 1070 metros altitude, alcançando Poon Hill a 3210 metros e
voltando pelo outro lado da trilha até o ponto de origem. A vantagem é
que a maioria dos trechos no Annapurna contam com a infra de tea houses, que
são casas simples nas montanhas e que recebem os viajantes com um pequeno
restaurante, um quarto com cama e se tiver sorte até chuveiro quente.
Os mais aventureiros devem estar pensando: "Moleza, nem precisa acampar!". Bom tratando-se de Himalaia tudo é bem diferente; a montanha mais alta do Brasil é o Pico da Neblina e tem 2993 metros já Poon Hill que é considerada uma trilha de baixa altitude no Nepal tem 3210m...
Como comentamos antes, fechamos o trecking com o Nirmal da Hyamalaya Magic Adventures e contratamos um guia e um porter além dos documentos obrigatórios: o TIMS (Trekkers' Information Management System) e o ACAP (Annapurna Conservation Area Project).
Os mais aventureiros devem estar pensando: "Moleza, nem precisa acampar!". Bom tratando-se de Himalaia tudo é bem diferente; a montanha mais alta do Brasil é o Pico da Neblina e tem 2993 metros já Poon Hill que é considerada uma trilha de baixa altitude no Nepal tem 3210m...
Como comentamos antes, fechamos o trecking com o Nirmal da Hyamalaya Magic Adventures e contratamos um guia e um porter além dos documentos obrigatórios: o TIMS (Trekkers' Information Management System) e o ACAP (Annapurna Conservation Area Project).
Os
documentos foram apresentados em vários check points pelo caminho e a multa
para quem começa a caminhada sem as devidas permissões é de US$80 além da
obrigação de retornar de onde estiver para regularizar a situação.
1° Dia – De Nayapul (1070m) a Tikhedhungga
(1540m)
Logo cedo nossos companheiros de viagem nos encontraram no hotel e de lá saimos de taxi até Nayapul. Combinamos que iríamos andar em nosso ritmo e que eles poderiam dar uma acelerada se ficássemos muito para trás.
Nossa mala devia ter uns 12 kg com os sacos de dormir e cheguei a comentar com a Deia que com este peso eu poderia ter carregado tudo sem o porter, mal sabia eu....
De Nayapul a Tikhedhungga foram 4 horas de caminhadas entre subidas e trilhas
abertas, mas acabamos chegando a nossa primeira tea house a tempo de aproveitar
o almoço. O lugar era grande e já estava reservado para dois grupos de
diferentes nacionalidades que caminhavam em outros trechos da montanha.
Para o primeiro dia até pareceu tranqüilo apesar de estarmos um pouco cansados. A trilha estava bem marcada e conseguimos comprar água fervida pelo caminho, evitando os tabletes de Iodine que deixam um sabor químico na água.
Logo cedo nossos companheiros de viagem nos encontraram no hotel e de lá saimos de taxi até Nayapul. Combinamos que iríamos andar em nosso ritmo e que eles poderiam dar uma acelerada se ficássemos muito para trás.
Nossa mala devia ter uns 12 kg com os sacos de dormir e cheguei a comentar com a Deia que com este peso eu poderia ter carregado tudo sem o porter, mal sabia eu....
Trilhas abertas e bem sinalizadas |
Muitos campos de arroz e lentilha pelo caminho |
Para o primeiro dia até pareceu tranqüilo apesar de estarmos um pouco cansados. A trilha estava bem marcada e conseguimos comprar água fervida pelo caminho, evitando os tabletes de Iodine que deixam um sabor químico na água.
2° Dia – De Tikhedhungga (1540m) a
Ghorepani (2860m)
Neste segundo dia, depois de uma noite fria nos sacos de dormir, seguimos viagem logo cedo parando em Ulleri (1960m) para um chá quentinho e em Nangge Thanti (2430m) para o almoço.
Neste segundo dia, depois de uma noite fria nos sacos de dormir, seguimos viagem logo cedo parando em Ulleri (1960m) para um chá quentinho e em Nangge Thanti (2430m) para o almoço.
Neste
trecho não tem choro, são aproximadamente 7 horas de caminhada com infinitos
degraus de pedra e muito perrengue pelo caminho. Só para que vocês possam
entender, a cidade de Santos está a 2 metros de altitude e São Paulo a 760
metros. A viagem de carro, entre as estas cidades dura uns 60 minutos sem
transito e é possível sentir os ouvidos tamparem na serra do mar durante os
quase 800 metros de desnível. Bom, imagine agora se existisse uma escada ligando as duas
cidades e voce tivesse que subir a mesma serra pela escadaria em 7 horas! Bom,
se somarmos mais uns 500 metros morro acima você poderá entender como foi nosso
segundo dia detrekking no Annapurna.
Quando chegamos a casa de chá em Ghorepani quase 2:30 hrs da tarde o frio já estava forte e nós estávamos moídos.
A medida que subíamos a paisagem e trilha ia mudando |
Em boa parte do caminho a montanha ia mostrando seus contornos devagarinho |
No Nepal as
casas tem um sistema de aquecimento interessante: trata-se de um latão de 50 litros
no meio da sala que é utilizado como lareira e aquecedor para o chuveiro, e foi
ali mesmo em volta do tambor, que passamos o resto da tarde junto aos
proprietários da tea House conversando e descansando.
Tea Houses
na montanha tem o preço tabelado pelo governo e cobram em média US$ 1,5 por um
quarto de casal. As famílias vivem desta renda e complementam a receita
vendendo alimentos e bebidas a preços mais altos.
Sempre que parávamos nas Tea Houses, pedíamos cerveja, refrigerantes e experimentávamos comidas diferentes. Esta foi a maneira que encontramos de ajudar as pessoas que nos acolhiam em suas casas depois de tantas horas de trilha e cansaço.
Sempre que parávamos nas Tea Houses, pedíamos cerveja, refrigerantes e experimentávamos comidas diferentes. Esta foi a maneira que encontramos de ajudar as pessoas que nos acolhiam em suas casas depois de tantas horas de trilha e cansaço.
3° Dia – De Ghorepani (2860m) a Poon Hill
(3210m) e a descida a Tadapani (2630m)
No terceiro dia levantamos as 4:30 da manhã para ver o amanhecer na cordilheira do Himalaia.
Foi 1 hora de subida até Poon Hill em meio a um monte de turistas com head lamps em um frio que chegava facilmente a menos de 0°C.É claro que tínhamos confiado no Nirmal e trazíamos na mala apenas um fleece fininho; nada de luvas ou Down Jacket, que tínhamos deixado no hotel em Pokhara. Nem preciso dizer que sentimos uma friaca daquelas a ponto de ficar com os dedos duros até o toquinho da unha.
Chegamos ao topo por volta das 5:40 hrs, mas infelizmente as nuvens em Poon Hill não deram trégua e só conseguimos ver um pedacinho das 6 montanhas enormes que estavam ali bem na nossa frente. Como diz o ditado: “O mundo não é perfeito!” e depois de uns 40 minutos já estávamos descendo novamente até Ghorepani para um café da manhã quentinho antes de recolhermos as coisas e rumar para Tadapani.
Nesta altura do campeonato já tinhamos acertado com o guia que no próximo dia desceríamos mais um pouco até Syauli Bazar, já que o trecho até Pitan Deurali ia requerer um esforço adicional sem muita compensação pelo visual.
E lá fomos nós entre descidas e subidas até Ban Thanti (3180m), onde paramos para um merecido chá com a sombra do Annapurna nos acompanhando. Dali até Tadapani os trechos foram bonitos e a paisagem mudou bastante entre mata fechada e espaços de campo aberto contornando o rio. A verdade é que depois de tanto sobe e desce o que mais queríamos mesmo era uma boa Tea house para descansar o corpo depois de mais de 7 horas andando pelas trilhas. Este foi um dia bem duro...
No terceiro dia levantamos as 4:30 da manhã para ver o amanhecer na cordilheira do Himalaia.
Foi 1 hora de subida até Poon Hill em meio a um monte de turistas com head lamps em um frio que chegava facilmente a menos de 0°C.É claro que tínhamos confiado no Nirmal e trazíamos na mala apenas um fleece fininho; nada de luvas ou Down Jacket, que tínhamos deixado no hotel em Pokhara. Nem preciso dizer que sentimos uma friaca daquelas a ponto de ficar com os dedos duros até o toquinho da unha.
Chegamos ao topo por volta das 5:40 hrs, mas infelizmente as nuvens em Poon Hill não deram trégua e só conseguimos ver um pedacinho das 6 montanhas enormes que estavam ali bem na nossa frente. Como diz o ditado: “O mundo não é perfeito!” e depois de uns 40 minutos já estávamos descendo novamente até Ghorepani para um café da manhã quentinho antes de recolhermos as coisas e rumar para Tadapani.
Nesta altura do campeonato já tinhamos acertado com o guia que no próximo dia desceríamos mais um pouco até Syauli Bazar, já que o trecho até Pitan Deurali ia requerer um esforço adicional sem muita compensação pelo visual.
E lá fomos nós entre descidas e subidas até Ban Thanti (3180m), onde paramos para um merecido chá com a sombra do Annapurna nos acompanhando. Dali até Tadapani os trechos foram bonitos e a paisagem mudou bastante entre mata fechada e espaços de campo aberto contornando o rio. A verdade é que depois de tanto sobe e desce o que mais queríamos mesmo era uma boa Tea house para descansar o corpo depois de mais de 7 horas andando pelas trilhas. Este foi um dia bem duro...
4° Dia – De Tadapani (2630m) a Syauli Bazar
(1220m)
Acordamos
as 6:30 hrs com os chamados de nosso guia na porta do quarto. O tempo estava
aberto e as montanhas que estavam tímidas e cobertas no dia anterior agora
estavam abertas e mostrando todo o seu contorno.
Pela
primeira vez, conseguimos ver todas as montanhas no horizonte: o Dhaulagiri I (8172m),
Nilgiri (7061m), Annapurna I (8091m), Annapurna Sul (7219m), Hiunchuli (6441m) e
Machhapuchhre (6993m) todos ali na nossa frente. Mas o tempo por aqui mudou
rápido e antes de sairmos para nossa caminhada diária as nuvens já tinham
tomado conta de tudo novamente.
Começamos o caminho ansiosos pelo trecho até
Ghandruk já que dali para frente seria só descida. Doce desejo e infeliz engano,
no total foram mais 6 horas de muitos degraus e raízes de árvores pelo caminho
que acabaram garantindo muito cansaço e uma dor nos joelhos que nos perseguiu
pelos próximos 3 dias. Nunca pensei que íamos ficar felizes em ver alguma subida
já no final do percurso, mas toda escadinha para cima arrancava sorrisos,
afinal estávamos descendo degraus o dia todo.
Lá pelas
15:00 hrs chegamos a Syauli Bazar e só tínhamos no pensamento uma boa comida e
um canto para esticar as pernas depois de tanto caminhar morro abaixo.
A compensação ficou por conta da Tea House que ficava ao lado do rio e de onde podíamos escutar o forte barulho das águas descendo da montanha, parecia que o rio estava passando dentro de nosso quarto.
A compensação ficou por conta da Tea House que ficava ao lado do rio e de onde podíamos escutar o forte barulho das águas descendo da montanha, parecia que o rio estava passando dentro de nosso quarto.
Aproveitamos
esta última noite também para confraternizar com nossos companheiros de viagem
e distribuir os envelopes de “tips” que servem de complemento de salário para
quem trabalha na montanha. Não há uma regra geral para isto, mas o padrão, é gratificar
a equipe com um dia de pagamento para cada semana de trabalho, fica a dica.
Hora de comemorar com o time depois de tanta andança |
O time era
composto de nosso guia, um garoto de 23 anos que tinha um inglês mais ou menos
e que para compensar dava risada o dia todo respondendo “ok,ok” toda vez que
perguntávamos alguma coisa; e de nosso porter , que além de aproveitar toda
chance que tinha para aprender inglês, nunca assumia que estava cansado ou que
tinha fome ou sede.
5° Dia – De Syauli Bazar (1220m) a Nayapul
(1070m)
No 5º e último dia aproveitamos um descanso merecido e saímos da Tea House mais tarde. Durante todo o trecho até Nayapul fomos cruzando campos de arroz, pequenas vilas e trechos de trilha aberta. O festival Tihar tinha começado e como tradição as crianças estavam coletando dinheiro para usar em pick nicks e ajudar nas reformas das escolas da comunidade. Por isso cada vez que cruzávamos com alguma criança pelo caminho elas começavam a dançar de uma forma estranha, um misto de Shakira e Latino, contorcendo todo o corpo e cantando “rastaman piriri”. Bom para nós piriri sempre foi apelido de disenteria e a dancinha realmente lembrava um movimento de cólica o que acabou nos divertindo toda vez que escutávamos a música e víamos as contorções da mulecada pelo caminho...
Finalmente depois de 4 horas chegamos a Nayapul onde tomamos um táxi para Pokhara já carentes de uma boa refeição e uma cama de hotel confortável.
No 5º e último dia aproveitamos um descanso merecido e saímos da Tea House mais tarde. Durante todo o trecho até Nayapul fomos cruzando campos de arroz, pequenas vilas e trechos de trilha aberta. O festival Tihar tinha começado e como tradição as crianças estavam coletando dinheiro para usar em pick nicks e ajudar nas reformas das escolas da comunidade. Por isso cada vez que cruzávamos com alguma criança pelo caminho elas começavam a dançar de uma forma estranha, um misto de Shakira e Latino, contorcendo todo o corpo e cantando “rastaman piriri”. Bom para nós piriri sempre foi apelido de disenteria e a dancinha realmente lembrava um movimento de cólica o que acabou nos divertindo toda vez que escutávamos a música e víamos as contorções da mulecada pelo caminho...
Finalmente depois de 4 horas chegamos a Nayapul onde tomamos um táxi para Pokhara já carentes de uma boa refeição e uma cama de hotel confortável.
Se
tivéssemos que resumir a experiência, diríamos que o esforço foi grande e
pudemos presenciar a vida dura que o nepalês leva nas montanhas. Ainda assim, toda
a dificuldade enfrentada por estas pessoas nunca apagou o sorriso no rosto de
quem tivemos a sorte de cruzar pelo caminho.
O Nepal é
um país pobre e com muitos contrastes. Ao mesmo tempo que estávamos preocupados
em vestir botas de trekking e roupas adequadas para a caminhada, cruzávamos com
porters carregando malas que alcançavam facilmente uns 40 kg enquanto vestiam
calças jeans e tênis velhos.
Em nossas paradas
nas Tea Houses o cardápio para os hospedes oferecia uma variedade de comidas como
arroz, noodles, frango e até pizza. Já
para o povo local, guias e porters, a refeição de todos os dias sempre foi o
Dal Bhat que é composto de arroz branco com um caldo de lentilha cozida
acompanhado de verduras e alguns legumes apimentados.
Nossas amigas borboletas nos acompanharam por todo o caminho |
As trilhas
pelo Annapurna estão bem marcadas e podem
ser feitas sem um guia desde que você tenha alguma experiência com Trekking. Ainda
assim, se tivéssemos que andar novamente por aqui não abriríamos mão do Porter.
Afinal, levar mochila pesada nas costas com tanto sobe e desce é dureza de
verdade.
De Pokhara
seguimos para Kathmandu e logo estaremos na Tailandia.
Daniel, seu doidão, faz tempo que entro aqui no seu blog. Nepal!!?? Caraca... Abraço. Edu (Tak)
ResponderExcluirTak que saudade de vc meu amigo. Pois é, o Nepal é rústico, mas a visão destas montanhas compensa o esforço!
Excluiroi de lindo tudo e muito lliinnddoo
ResponderExcluirHa Ha acertei andreia viu com sou Inteligente
ResponderExcluirE o frio em Novembro?
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